Estou escrevendo para não gritar
Para não acordar os que dormem felizes lado a lado,
Os que repousam, aconchegados,
Os que se encontram e continuam juntos
E não precisam sonhar
Porque não dizem Adeus...
Estou escrevendo para não gritar,
Para enfunar o coração largo.
E as palavras escorrem salgadas como um córrego de águas mortas
Num silencioso pranto.
Tão longe, e nem pode perceber a minha insônia.
Nem ouvir a confidência que põe nódoas no papel
E se transmuda em palavras, que são estátuas de sal.
Estou escrevendo para não gritar.
Para não ter tempo de acompanhar a noite.
Para não perceber que estou só,
Irremediável mente só.
E que te trago comigo
Sem outra alternativa que o pensamento
- Cela em que me debato a olhar a lua entre grades.
Estou escrevendo para não gritar.
Para não perturbar os que se amam e se juntam,
E se estreitam, e sussurram na sombra
E passeiam ao luar.
Para que as palavras chovam num dilúvio, silenciosamente,
E me alaguem, e me afoguem, e me deixem pela noite adentro
Como um corpo sem vida e sem alma
A Flutuar...