Serás a terra, Humanamente cheia de beleza, de encantos, de paisagens, terás um corpo de areia e uma alma de miragens; serás a tera, sim, - esplêndido, formoso, abrindo a sua boca como uma taça de mel!
E eu serei, pretensão, talvez! Fátua loucura! Terei que ser, para viver curvadosobre ti, numa atitude de ternura, e envolver-te encantado, - Terei que ser o Céu!
Não! Não quero bocas fartas e relaxadas pelos desejos, frias e saturadas de beijos.
Saturadas e vazias...
Bocas que deixam manchas noutras bocas, tatuagens efêmeras e loucas de segundos de amor que estertoram de tédio...
- Nem quero estes homens que me dêem de seus desejos com gestos indiferentes de alguém que oferta a meus nervos doentes um fictício remédio...
Quero somente a boca que desejo de amor, que se entrega a mim com doces palavras.
A estória abaixo, me era contada quase sempre, por minha mãe em minha infância. De uma forma que não sei explicar, ela ficou marcada, esta gravada em mim... Eu a sei de cor.
Sou feliz por ter lembranças como estas, de minha mãe me contando estórias, de meu pai indo me cobrir e me dar um beijo de boa noite...
Das brigas com meus irmãos, das artes que aprontei...
Está e somente uma das varias que eu tenho...
Mais é uma que hoje eu repito para meus sobrinhos... e quem sabe um dia repetirei para um filho em meus braços...
Bom, se for pra lembrar de tempos que não retornaram com a felicidade que me lembro daqueles dias, onde a chuva tinha cheiro de terra, e o morro era muito mais alto do que hoje em dia... eu as contarei milhares de vezes...
- Bom dia, Sol, bom dia, Flores, bom dia todas as cores!!!
E enquanto lavava o rosto em uma folha cheia de orvalho, foi crescendo aquela velha vontade dentro dele:
- Já sei, já sei, hoje vou ficar cor de rosa que é minha cor preferida, e vou sair pelo Sol, contente da minha vida.
Meu amigo Camaleão estava feliz porque tinha chegado a Primavera. E o Sol, finalmente, depois de um Inverno longo e frio, brilhava alegre no céu.
- Hoje eu estou de bem com a vida.
Disse ele. – Quero ser bonzinho com todo mundo...
Logo que saiu de casa, o nosso amigo Camaleão encontrou o Professor Pernilongo, que toca Violino na Orquestra do Teatro Florestal
- Bom dia Professor!
Como vai o Senhor?
- Bom dia, Camaleão!
- Mais o que é isso meu irmão?
- Por que é que mudou de cor, esta cor não lhe cai bem... Olhe para o Azul do Céu, por que não fica Azul também?
O Camaleão, amável como ele era, resolveu ficar azul, como o Céu de Primavera...
Até que em uma clareira o Camaleão encontrou o Sabía-Laranjeira:
- Meu amigo Camaleão, muito bom dia a você!
- Mas que cor é esta agora? O amigo está Azul por quê?
Porque o Amigo não fica Alaranjado, cor de Laranja, Dourado?
Nosso amigo bem depressa, resolveu mudar de cor.
Ficou logo Alaranjado, Louro, Laranja, Dourado.
E cantando alegremente, lá se foi ainda contente...
Na pracinha da floresta, saindo da Capelinha, vinha o Senhor Louva-a-deus, mais a família inteirinha. Ele é um senhor muito serio, não gosta de gracinhas...
- Bom dia meu amigo Camaleão!
- Bom dia.
- Bom dia.
-Bom dia meu amigo Camaleão!
-Bom dia.
-Bom dia. Cruzes quanta gente...
- Que cor mais escandalosa! Parece ate fantasia de Carnaval...
Você devia arranjar uma cor mais Natural! Veja o Verde da folhagem, veja o Verde da Campina, o amigo deveria fazer o que a Natureza ensina.
É claro que o nosso amigo resolveu mudar de cor. Ficou logo bem verdinho, e se foi pelo seu caminho...
Vocês agora já sabem como era o Camaleão, bastava que alguém falasse, mudava de opinião.
Ficava roxo, amarelo, ficava cor de pavão. Ficava de toda cor, não sabia dizer NÃO.
Por isso, naquele dia, cada vez que se encontrava com algum de seus amigos, e que o amigo estranhava a cor com que ele estava...
Adivinha o que fazia o nosso amigo Camaleão?
Pois é, ele logo mudava, mudava para outro tom...
Mudou de rosa para azul.
De azul para alaranjado.
De laranja para verde.
De verde para encarnado.
Mudou de preto para branco, e de branco ficou roxinho.
De roxo para amarelo, e até para cor de vinho...
Quando o Sol começou a se pôr no horizonte, o Camaleão resolveu voltar para casa, estava cansado do longo passeio e mais cansado ainda de tanto mudar de cor.
Entrou em sua casinha, deitou para descansar, e lá ficou a pensar:
- Por mais que a gente se esforce, não pode agradar a todos.
Alguns gostam de farofa, outros preferem farelo...
Uns gostam de maçã, outros querem Marmelo...
Tem quem goste de sapatos, tem quem goste de chinelos...
E se não fossem os gostos, o que seria do Amarelo?
Por isso no outro dia, nosso amigo Camaleão levantou-se bem cedinho:
- Bom dia Sol, bom dia Flores, bom dia Todas as cores...
E enquanto lavava o rosto em uma folha cheia de orvalho, foi crescendo aquela velha vontade dentro dele:
- Já sei, já sei, hoje vou ficar cor de rosa, que é minha cor preferida, e vou sair pelo Sol, contente da minha vida.
Logo que saiu, o nosso amigo Camaleão encontrou o Sapo Cururu, que é cantor de sucesso na Rádio Jovem Floresta.
-Bom dia, meu caro sapo! Que dia mais lindo, não?
- Bom dia, meu amigo Camaleão!
Mais que cor mais engraçada, antiga, tão desbotada...
Por que é que o amigo não usa uma cor mais avançada?
O Camaleão sorriu, encheu-se de coragem e disse ao seu amigo Sapo:
- Eu uso as cores que gosto, e com isso faço muito bem.
Eu gosto de bons conselhos, mais faço o que me convém.
Quem não agrada a si mesmo, não pode agradar ninguém...
Numa hora calma, sentar-se a sós, tomar um livro de páginas fechadas cujo conteúdo pressentimos, pelo autor, nosso velho conhecido, e abrirmos página por página, levantando aqui e ali sem nos contermos, curiosos, uma palavra, como um véu sobre a beleza ignorada, a beleza que desponta como o sol que irradia.
Oh! Não será isto a alegria?
Receber uma carta, uma carta simples, num domingo de manhã, e antes do jornal, abri-la conjecturando, e encontrar a alma irmã, ardente e solitária que nos faz confidências e amplia nossos limites numa imprevista harmonia.
Oh! Não será isto a alegria?
Esperar alguma noite, um amigo que não perturbará a nossa intimidade, que beberá conosco o mesmo vinho, ouvirá a mesma música.
- Cuja cadeira o destino colocou ao nosso lado na mesma mesa do passado – com quem partilharemos nossos planos e nossas esperanças, e a quem gostaríamos de chamar irmão numa hora de paz ou de agonia...
Oh! Não será isto a alegria?
Despertar sobressaltado, voltar o rosto e encontrar ao seu lado, sereno e confiante, o rosto do companheiro que dorme pousar a nossa mão sobre a sua, e adormecer sem remorsos, numa profunda poesia...
Oh! Não será isto a alegria?
Manhã clara de primavera, calção de banho, o sol no peito, sem dívidas e pecados, invejas ou remorsos, encher de ar os pulmões diante da praia iluminada, e atirarmo-nos de encontro às ondas e nadar contra o horizonte de um novo dia...
O mesmo beijos, o mesmo quarto claro, com seu assoalho brilhando refletindo o meu passo, as mesmas paredes brancas me envolvendo com afáveis gestos de paz, o mesmo rádio silencioso, entre livros empilhados, a mesma estante fechada que a um gesto meu descobre tesouros como velha mala de pirata.
Afinal, eis o meu Mundo.
A mesma insubstituível companhia, a mesma presença até quando longe dos olhos, a mesma voz perguntando, a mesma voz respondendo, o mesmo odor suave da pele, do perfume, a mesma impressão de quem chega com ombros nus e me cerca em afagos, como um macio agasalho.
Afinal, eis o meu Mundo
Como o pescador diante do mar:
- Eis o meu Mar.
Como o pássaro do dilúvio diante do primeiro ramo: