Aqui me tens... Constante e eterna é a expectativa!
Por que ei de ser assim sempre ingênuo e sincero por mais que experiência eu tenha, e da vida eu viva?
Chegarás... E terás uma resposta certa ao que me perguntar, “SIM”, e eu que tanto te quero renderei novamente a minha alma, cativa, enquanto sorrirás feliz ... e eu desespero.
Há um estranho poder nesta tua humildade, e esse teu ar de ternura e meiguice estraçalha aos teus pés toda a minha vontade...
Ele veio, sentou-se ao meu lado e me disse em palavras febris, seu sonho de amor... Um sonho comum, apenas um sonho, pra alguns uma tolice Mais me fizera apaixonar, e entregar meu coração de todo.
- Que bom você me chamar assim, meu pessegueiro-da-flórida!
- Você gosta, minha calhandra?
- Adoro, meu teleférico iluminado!
- Eu também gosto muito de ser tudo isso que você me chama!
- De verdade, meu jaguaterê de paina?
- Juro, meu cavalinho de asas!
- Então diz mais, diz mais!
- Meu oitavo, décimo, décimo quinto pecado capital, minha janela sobre a Acrópole, meu verso de Rilke, minha malvassiara, meu minueto de Versailles…
- Mais, agapanto meu, tempestade minha!
- Minha follia con variazoni, de Corelli, meu isto-e-aquilo enguirlandado, meu eu anterior a mim, meus diálogos com Platão e Plotino ao entardecer, minha úlcera maravilhosa!
- Ai que lindo, liiiiindo, meu colar de cavalheiro inglês num retrato de Ticiano! Meu fundo-do-mar, você me põe louca, louca de amar as pedras, de patinar nas nuvens!
- E eu, então, minha górgone, minha gárgula de Notre-Dame, e eu, minha sintaxe de Deus?
- Você fala como falam os balões de junho de Portinari, as jóias da coroa do reino de Samarcanda, você, meu imperativo categórico, você, minha espada maçônica, você me mata!
- E você também me trucida, me degola, me devolve ao estado de música, meu tambor de mina!
- Todos os incentivos oficiais reunidos e multiplicados não valem a tua alquimia, meu ministro do fogo!
- Tuas paisagens, teu subsolo infernal, teus labirintos são superiores em felicidade a qualquer declaração dos direitos do homem!
- A primeira vez que vi você naquele bar do crepúsculo eu senti que as pirâmides e as cataratas não valiam a tua unha do dedo mindinho!
- Porque você é o Banco das Estrelas, e pode comprar todas as coisas do mundo, inclusive as águas e os animais, para restituí-los à vida em liberdade!
- Como posso ouvir outras palavras senão as tuas, meu almanaque do céu? Minha ciência do insabível? Meu terremoto, meu objeto voador identificado?
- Não nascemos um para o outro, nascemos um no outro, e estamos nessa desde antes do começo dos séculos, meu nenúfar!
- E estaremos mesmo depois que os séculos se evaporarem, ó meu desenho rupestre, meu formigão atômico!
- Mandala, raio laser, sextina! Tudo meu, é claro.
- Pomba-gira!
- Clepsidra!
- Sequóia minha, minha, minha!
Diálogo aparentemente louco, mas que dois namorados de imaginação mantêm todos os dias, com estas ou outras palavras igualmente mágicas. Não inventei nada. Apenas colecionei expansões ouvidas aqui e ali, e que me pareceram espontâneas, isto é, ninguém deve ter preparado antes o que iria dizer, de tal modo que as palavras saíam entrecortadas de risos, interrompidas por afagos, brotando da situação. O amor é inventivo e anula os postulados da lógica. Ele tem sua lógica própria, tão válida quanto a outra. E os amantes se entendem sob o signo do absurdo – não tão absurdo assim, como parece aos não-amorosos. Já ouvi no interior de Minas alguém chamar seu amor de “meu bicho-do-pé” e receber em troca o mais cálido beijo de agradecimento.
Essa coletânea de frases de amor está aqui como introdução ao projeto não-comercial de comemorações do Dia dos Namorados. Não para que elas sejam repetidas mecanicamente. Todo namorado que se preze deve inventar as besteiras líricas e deliciosas que a gente não diz para qualquer pessoa, só para uma e só em momentos de pura delícia. Funcionam? E como!
Ele tarda... E eu me sinto inquieto, quando julgo vê-lo surgir, num vulto, adiante, os lábios frios, trêmulo e ofegante, os seus olhos nos meus, lindo, fitando... O céu desfaz-se em luar... Um vento brando nas folhagens cicia acariciante, enquanto com o olhar terno de amante fico à sombra da noite perscrutando... E ele não vem... Aumenta-me a ansiedade: O segundo que passa e me tortura, é o segundo sem fim da eternidade... Mais eis que ele aparece de repente!... E eu feliz, chego a crer que igual ventura bem valia esperar-se eternamente!...
Interessante, Amor, como depois de tantos descaminhos de tantos desencontros, a vida vai ajeitando a felicidade ou a felicidade vai se ajeitando na vida, sem a gente perceber, se enrodilhando em si mesma como um gato no tapete.
Como vamos reduzindo as proporções dos nossos sonhos (sem que nos apercebamos disto), modificando nossos planos (aquelas aspirações que eram como viagens a Marte), limitando os horizontes de nossa felicidade, e por isso mesmo, tornando-a possível, real, palpável, capaz de ser possuída, sem nada perder de seu conteúdo, antes tomando uma forma imprevista. Apenas.
Estranho, Amor, como a felicidade pode se reduzir a um quase nada (sem deixar de ser tudo) sem deixar de ser felicidade.
Sabe uma coisa Amor?
A gente só pode ser feliz depois de ter andado muito, e ter provado os tragos amargos da vida, e depois que afinal a gente chega a uma espécie de filosofia sobre o querer, e o poder alcançar...
Hoje, por exemplo, basta estar em casa, basta Você estar comigo para que me sinta feliz... de repente me ocorre que há tanta gente que não pode estar em casa, que não sabe o que é estar em casa – sentir vagamente, em torno o calor de uma companhia que faz de cada coisa inanimada algo que existe, e vibre, e sente, e sofre, e ama, como um Ser.
E deixe que lhe confesse, depois de tanto tempo lado a lado:
- Nunca a casa me parece tão vazia, como agora, se acaso chego, e não encontro Você.
É tão fácil entender: Você esta em toda parte: nas flores das jarras, na porta entreaberta, no rumor da cozinha, na roupa sobre a cama, em tantos lugares! Na desordem das coisas, no gesto da rede, em tantos detalhes só acessíveis à minha percepção...
Hoje, basta Você estar em casa e já me sinto feliz seu andar, seu vulto, sua voz. “Materializam” sua presença a todo instante.
Basta saber que cada gesto é um pensamento em mim, basta saber que vamos nos sentar juntos à mesa, na nossa hora de comunhão!
Basta saber que vamos nos deitar juntos e conversaremos sobre o tão pouco de nossas vidas, se nossos corpos se tocarão sob os lençóis, como dois ramos acenando, na sombra, ao entardecer.
Quem nos vir há de pensar que somos apenas duas pessoas sentadas à mesa, conversando na sala, vendo televisão, duas pessoas dormindo na mesma cama; e, entretanto, que engano! Somos um Mundo, duas vidas construídas há tantos anos em tantas ir reconstituíveis momentos unidas como dois fios, por duas agulhas que tecem a mesma malha, e eu não poderia olhá-lo como olho, se Você não viesse de tão longe em meu coração, nem Você sorriria para mim desse modo, se eu não fosse para Você tanta coisa de que talvez nem Você mesmo se aperceba.
Não sei se consigo traduzir essa sensação de felicidade que me vai possuindo inteiro, e vai se entranhando em mim, numa infinita tranqüilidade que sinto na alma, no coração, nas mãos, nos braços, no corpo todo. sem nenhuma razão aparente, e por tão pouco, dirão.
Mas hoje basta Você estar em casa, mais nada, apenas estar em casa, para que eu me sinta feliz.
Eu sei que é sempre assim, longe dele imagino mil versos que não fiz mais que ainda hei de compor. Perto dele – Meu Deus!... Lembro mais um menino que esquecesse a lição diante do Professor Penso que minha voz terá som de violino enchendo seus ouvidos de canções de amor, e hei de deixa-ló tonto ao vinho doce e fino dos meus beijos no instante em que meu ele for... E ao seu lado, entretanto, encabulo, emudeço, e se os seus lábios frios, trêmulos se calam, eu, de tudo, das coisas, de mim mesmo esqueço... E ficamos assim, ele em silencio... eu mudo... Mais meus olhos, nem sei... Ah! Quantas coisas falam! E seus olhos, seus olhos... Dizem tudo, tudo!...
E eu tão só, e eu tão cansado... A alma que só te quer Só a ti reclama... Só tu cintilas como estrela Numa límpida radiancia Na noite de minha insônia.
Tu és belo e grandioso como a mais linda escultura
Tu sé formas assim,
Dobrando caráter e postura
Somando valores e qualidades
Tu sé esculpes a sua forma
Útil a seus olhos
Divino aos olhos alheios.
E então, eu me sinto como m vento de ternura imensa e as nuvens a se dispersarem, e eu vejo que meu coração emerge como o alto cume de uma montanha, dourado como um Sol, musicado pelas águas frias de seu gelo derretendo. Olho você e vejo o caminho sinuoso por onde eu saio a procurar minha felicidade. E de repente tomo-te nos braços, afago lhe a cintura, recolho-te ao meu peito. Teu coração inquieto pulsa mais que um córrego nas montanhas E de repente saímos livres e felizes como simples animais de Deus.